Carolina Fernandes, diretora, roteirista e produtora radicada no Amazonas há 15 anos.
Atuou como diretora assistente no filme “A Última Floresta” (vencedor do prêmio do público na mostra Panorama da Berlinale em 2021) e no filme “Ex- Pajé” (premiado no Festival de Berlim em 2018 e no festival É Tudo Verdade). Dirigiu e escreveu o curta “Simplicity”, selecionado no 20° Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.
Dirige a produtora audiovisual Banksia Films. Seus filmes entre curtas e longas foram selecionados e premiados em diversos festivais nacionais e internacionais. Entre eles se destacam, “Walden” premiado como melhor filme suíço no Festival de Cinema de Zurique de 2018. “We are Guardians” vendedor do prêmio de melhor documentário pelo público na 47° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “Brazil – A natural History” vencedor como melhor filme no Deauville Green Awards na França em 2016.
Atualmente como diretora e roteirista está em finalização do seu mais recente curta “Pirarucu, o respiro da Amazônia” e está em pré produção do seu primeiro longa “Mães da Terra”.
O mundo está sedento por novas histórias. A cesta de narrativas do hemisfério norte está cansada. É um tempo de ventos do sul, histórias de povos politeístas e animistas, onde mitos e logos ainda vivem em harmonia e os conflitos são sobrenaturais. É hora de contar histórias fantásticas com personagens que carregam dimensões mágicas. As histórias e pontos de vista das pessoas são uma fonte a ser revelada.
A missão da Banksia Films é usar a linguagem cinematográfica para produzir filmes que tenham uma função muito além de apenas entreter o público. Para nós, redescobrir as maravilhas do planeta, contar histórias transformadoras e proteger o meio ambiente natural tornaram-se inseparáveis.
Fundada em 2009 em Manaus, a Banksia Films é uma produtora de filmes com conteúdo para cinema e TV que atua no mercado audiovisual brasileiro e internacional, oferecendo serviços de criação de conteúdo, produção e pós-produção para séries de entretenimento factual, programas de entretenimento de alto nível, documentários de realidade e observação. É reconhecida no mercado nacional e internacional pela qualidade e solidez de seus projetos audiovisuais.
Seus filmes foram transmitidos para a televisão em mais de 30 países, incluindo a BBC, National Geographic Channels, Smithsonian Channel, HBO, Netflix, Facebook Watch, Al Jazeera English, Channel 4, Discovery International, Animal Planet, Canal + FR, France 5, Arte France, Bayerischer RundFunk, Bnnvara, Multishow, SBT e TV Globo. A equipe de produção da Banksia Films, coordenada pela sua sócia-fundadora Carolina Fernandes, desenvolve projetos desde a pesquisa editorial até a gestão integral de produções audiovisuais nacionais e internacionais na Amazônia e outras regiões do Brasil.
Carol – Autora
Dirigido por: Carolina Fernandes
Roteiro: Kolarenee Enawe-Nawe and Juliano De Paula – Co-roteirista: Luiz Bolognesi
Produção Criativa – Desirée Portela
Equipe técnica
Produção Executiva: Desirée Portela
Direção de Fotografia: Dokotone Enawene Nawe and Pedro J. Márquez
Técnico de som: Rodrigo Macedo
Edição: Ricardo Farias
Produtores locais: Kawali Enawene Nawe
Consultoria Etnográfica: Indigenousist Fausto Campoli
Após uma epidemia de malária os shamãs Sotakatares quase foram extintos. Mas um homem que não tinha o direito hereditário para se tornar um deles, aprendeu em segredo os cantos sagrados e salvou a memória cultural dos Enawenê Nawê.
O filme “Sotakatare” é um drama contemporâneo sobre um homem que aprendeu em segredo os cantos sagrados e salvou a cultura cósmica da etnia enawene nawe , mantendo o equilíbrio do mundo e os seres celestes satisfeitos. O gênero documentário e ficção se entrelaçam nesse filme que retrata o cotidiano da aldeia Enawene Nawe e a luta de seus integrantes para preservá-la.
Os Enawenê-nawê vivem em uma única grande aldeia próxima ao rio Iquê, afluente do rio Juruena, no noroeste de Mato Grosso na Amazônia Brasileira. Eles são responsáveis pelo equilíbrio do mundo porque conseguem através das oferendas nos seus rituais, manter os espíritos satisfeitos. A cada ano iniciam um longo ritual destinado aos seres subterrâneos e celestes. Durante este período os Enawene Nawe cantam, dançam e lhes oferecem comida, numa complexa troca de sal, mel e alimentos.
Os “sotakatares” são os shamãs detentores de todo o conhecimento musical que conduz os rituais. Esse conhecimento é transmitido oralmente de pai para filho. São centenas de canções que um iniciante precisa memorizar para se tornar um Sotakatare, e esse conhecimento perdura por toda a vida de um sotakatare já que são mais de 2.000 horas de musicas que eles precisam memorizar.
“DODOKWI” , nosso personagem não é filho de sotakatare e portanto não poderia ser um deles. No entando, “DODOKWI” desde a infância se interessou pelas canções e começou a memorizá-las em segredo. Escondido por entre os buracos das paredes da maloca, ouvia os ensinamentos dos mais velhos e passava as madrugadas inteiras assistindo às rodas de todos os clãs de sotakatares na sua dança e canto intermináveis. De repente uma epidemia de malária assolou a aldeia e os sotakatares foram exterminados. “DODOKWI” então se revelou um grande sotakatare e conhecedor das canções sagradas. Os rituais puderam continuar a serem conduzidos orquestrados pelas canções sagradas porém a missão dos enawene nawe em manater os seres celetes satisfeitos no ritual do Yaokwa ainda enfrenta muitas obstáculos.
A contaminação de seus rios devido aos agrotóxicos utilizados no cultivo de soja ao redor do território e a construção de dezenas de pequenas hidrelétricas ao longo do rio juruena levou à extinção de peixes dos rios que banham o território indígena, a falta de comida para alimentar os espíritos durante o ritual é uma consequência direta do avanço da indústria agro em áreas protegidas.
Os Enawene nawe lutam, dia a dia, pela valorização e reconhecimento do direito, que lhes é constitucionalmente assegurado, de vivenciarem suas tradições, sua língua e seus modos de ser e estar no mundo, cotidianamente ameaçados por pressões ambientais, econômicas, territoriais e políticas.
Yaokwa, como ritual, é um componente vital do universo cultural dos Enawene Nawe e está hoje altamente ameaçado devido à extinção dos peixes em seus rios e à falta de alimentos para alimentar os espíritos durante o ritual.
Atualmente, eles estão pedindo doações de toneladas de peixes de fazendas e também estão envolvidos na compra de muitas toneladas de peixes para que o ritual possa ser realizado. A responsabilidade pela realização deste ritual é extremamente importante para que esse povo possa manter os espíritos subterrâneos controlados e sem afetar a humanidade.
Além da fragilidade desse conhecimento musical, os Enawene sofrem muitas ameaças. A construção de pequenas usinas hidrelétricas nas periferias da Terra Indígena Enawenê-Nawê já afeta completamente a dinâmica ecológica de seu ambiente aquático, atualmente os peixes em seus rios estão extintos, comprometendo diretamente a realização das cerimônias rituais, que são de suma importância para a vida dos Enawenê-Nawê, afinal, os seres celestiais são alimentados com peixes. Além disso, eles estão cercados por outras ameaças de invasão e poluição dos rios e de suas terras por agrotóxicos resultantes das atividades agrícolas e de mineração e do cultivo de soja ao redor de seu território.